
"Moralmente,
é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não,
desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o
dinheiro, desde que ele esteja em nossas mãos."
O
Império Carlyle

por Eric Leser [*]
O maior investidor privado do
mundo, bem implantado no setor do armamento, é um grupo discreto, que
cultiva relações com homens influentes, entre os quais os Bush, pai e
filho.
Há um ano, a 1 de Maio de 2003, George Bush pousava, envergando uma
indumentária de piloto de caça, no porta-aviões USS Abraham-Lincoln ,
ao largo da Califórnia. A imagem tornou-se célebre. Sob uma faixa que
proclamava "Missão cumprida" ("Mission accomplished"),
o presidente anunciava prematuramente o fim das operações militares
no Iraque e a sua vitória. No dia seguinte, de regresso a terra firme,
ele pronunciava um outro discurso marcial, não longe de San Diego, numa
fábrica de armamento da United Defense Industries.
Esta empresa é um dos principais fornecedores do Pentágono. Fabrica,
entre outras coisas, mísseis, veículos de transporte e, na Califórnia,
o blindado ligeiro Bradley. O seu principal accionista é o maior
investidor privado do mundo. Um grupo discreto, baptizado Carlyle.
Não está cotado na Bolsa e não presta contas senão aos seus 550
investidores – multimilionários e fundos de pensão. O Carlyle gere
hoje 18 mil milhões de dólares, colocados nos sectores da defesa e da
alta tecnologia (biologia, principalmente), na indústrial espacial, na
informática ligada à segurança, nas nanotecnologias, nas
telecomunicações. As empresas que controla apresentam como
característica comum terem por clientes principais governos e
administrações. Como esta sociedade descreveu-se numa brochura: “ Investimos
nas oportunidades criadas nas indústrias fortemente afectadas pelas
mudanças de política governamental ”.
O Carlyle é um modelo construído à escala planetária com base no
capitalismo de relações ou “ capitalismo de acesso ”, para
usar a expressão da revista americana New Republic , em 1993. O
grupo encarna hoje, apesar das suas negativas, o “complexo
militar-industrial” contra o qual o presidente americano Dwight
Eisenhower alertava o povo americano, ao deixar as suas funções em 1961.
Isto não impediu George Bush, pai, de ocupar durante dez anos, até
Outubro de 2003, um posto de conselheiro da Carlyle. Era a primeira vez na
história dos Estados Unidos que um antigo presidente trabalhava para um
fornecedor do Pentágono. O filho, George W. Bush, conhece igualmente
muito bem a Carlyle. O grupo deu-lhe um emprego em Fevereiro de 1990,
quando o pai ocupava a Casa Branca: administrador da Caterair, uma
sociedade texana especializada na restauração aérea. O episódio já
não figura na biografia oficial de presidente. Quando George W. Bush
deixa a Caterair, em 1994, antes de se tornar governador do Texas, a
empresa está em apuros financeiros.
“Não é possível estar mais próximo da administração do que
está a Carlyle”, afirma Charles Lewis, director do Centro para a
Integridade Pública, uma organização não partidária de Washington. “George
Bush, pai, ganhou dinheiro proveniente de interesses privados que
trabalham para o governo do qual o filho é presidente. Poder-se-á mesmo
dizer que o presidente virá um dia a beneficiar financeiramente, por via
dos investimentos do pai, das decisões políticas que tomou”, acrescenta.
A colecção de personagens influentes que trabalham, trabalharam ou
investiram no grupo deixariam de boca aberta os adeptos mais convencidos
da teoria da conspiração. Encontram-se nele, entre outros: John Major,
antigo primeiro-ministro britânico, Fidel Ramos, antigo presidente
filipino, Park Tae Joon, antigo primeiro-ministro da Coreia do Sul, o
príncipe saudita Al-Walid, Colin Powel, actual secretário de Estado,
James Baker III, antigo secretário de Estado, Caspar Weinberger, antigo
secretário para a Defesa, Richard Darman, antigo director do Orçamento
da Casa Branca, o multimilionário George Soros e, mesmo, membros da
família Ben Laden. A esta lista podem acrescentar-se Alice Albright,
filha de Madeleine Albright, antiga secretária de Estado, Arthur Lewitt,
antigo presidente da SEC (o polícia da Wall Street), William Kennard,
ex-patrão da autoridade para as telecomunicações (FCC). Finalmente, é
preciso juntar, entre os europeus, Karl Otto Pöhl, antigo presidente do
Bundesbank, o falecido Henri Martre, que foi presidente da Aerospatiale, e
Etienne Davignon, antigo presidente da Générale na Bélgica.
A Carlyle não é apenas uma colecção de homens de poder. Possui
participações em perto de 200 sociedades e, sobretudo, a rentabilidade
anual dos seus fundos ultrapassa os 30% de há uma década para cá. “Relativamente
às 500 pessoas que empregamos no mundo, o número de antigos homens de
Estado é muito diminuto, uma dezena quando muito”, explica
Christopher Ullmann, vice-presidente da Carlyle, responsável pela
comunicação. “Acusam-nos de todos os males, mas nunca ninguém
apresentou uma prova de qualquer malversação. Nunca nenhum processo
judicial foi apresentado contra nós. Somos um alvo cómodo para quem quer
atacar o governo americano e o presidente”
A Carlyle foi criada em 1987 com 5 milhões de dólares, nos salões do
palácio nova-iorquino do mesmo nome. Os seus fundadores, quatro juristas,
um dos quais, David Rubenstein, antigo conselheiro de Jimmy Carter, tinham
como ambição – limitada – aproveitar uma falha na legislação
fiscal, que autorizava as sociedades no Alaska pertencentes a esquimós a
ceder as suas perdas a empresas rentáveis que, deste modo, pagariam menos
impostos. O grupo vegeta até Janeiro de 1989, quando chega à sua
direcção o homem que inventará o sistema Carlyle, Frank Carlucci.
Antigo director-adjunto da CIA, conselheiro para a segurança nacional,
depois secretário para a Defesa de Ronald Reagan, o sr. Carlucci tem peso
em Washington. É um dos amigos mais chegados de Donald Rumsfeld, o actual
ministro da Defesa. Os dois partilharam um quarto quando estudantes em
Princeton. Cruzaram-se depois em numerosas administrações e, durante um
certo tempo, trabalharam para a mesma empresa, a Sears Roebuck. Seis dias
após ter deixado oficialmente o Pentágono, a 6 de janeiro de 1989, Frank
Carlucci tornou-se director-geral da Carlyle e levou consigo homens de
confiança, antigos funcionários da CIA, do Departamento de Estado e do
Ministério da Defesa. Apelidado “M. Clean” (“o Sr. Limpo”), Frank
Carlucci tem uma reputação demoníaca.
Este diplomata esteve colocado, nos anos de 1970, em países como a
África do Sul, o Congo, a Tanzânia, o Brasil e Portugal, onde os Estados
Unidos e a CIA tiveram um papel político duvidoso. Ele era o número dois
da embaixada americana no Congo belga, em 1961, e foi suspeito de estar
implicado no assassinato de Patrice Lumumba, o que sempre desmentiu
firmemente. A imprensa americana acusou-o também de estar implicado em
vários tráficos de armas nos anos de 1980, mas nunca foi processado.
Dirigiu durante um certo tempo a Wackenhut, uma sociedade de segurança de
reputação detestável, implicada num dos maiores escândalos de
espionagem, o desvio do logicial Promis. Frank Carlucci teve por missão
compor as coisas na administração Reagan no momento do caso Irão-Contra
e sucedeu então a John Pointdexter no posto de conselheiro para a
segurança nacional. Quando entrou em funções, tinha nomeado como
adjunto um jovem general... Colin Powel.
Com o seu nome, Frank Carlucci atrai capitais para a Carlyle. Em Outubro
de 1990, o grupo apodera-se da BDM International, que participa no
programa da “guerra das estrelas”, e faz disso a sua ponta de lança.
Em 1992, Frank Carlucci alia-se ao grupo francês Thomson-CSF para apanhar
a divisão aerospacial da LTV. A operação fracassa, o Congresso opõe-se
à venda a um grupo estrangeiro. A Carlyle encontra outros associados, a
Lorale Northrop, e deita a mão à LTV Aerospace, rapidamente rebaptizada
Vought Aircraft, que participa na fabricação dos bombardeiros B1 e B2.
Nessa mesma altura, o fundo multiplica as aquisições estratégicas, tais
como a Magnavox Electronic Systems, pioneira em matéria de imagens por
radar, e a DGE que detém a tecnologia dos mapas em relevo electrónicos
para mísseis de cruzeiro. Seguem-se três sociedades especializadas em
descontaminação nuclear, química e bacteriológica (Magnetek, IT Group
e EG & G Technical Services). Depois, por intermédio da BDM
International, uma firma ligada à CIA, a Vinnell, que está entre as
primeiras como fornecedora de contratados privados ao exército americano
e seus aliados, isto é, de mercenários. Os da Vinnell enquadram as
forças armadas sauditas e protegem o rei Fahd, tendo combatido na
primeira guerra do Golfo ao lado das tropas sauditas. Em 1997, a Carlyle
revende a BDM e a Vinnell, que era particularmente perigosa. O grupo já
não precisa delas pois tornara-se o 11º fornecedor do Pentágono, quando
se apoderou, nesse mesmo ano, da United Defense Industries.
A
Carlyle sai obrigatoriamente da sombra com o 11 de setembro de 2001. Nesse
dia, o grupo organiza no Ritz Carlton de Washington uma reunião com 500
dos seus mais importantes investidores. Frank Carlucci e James Baker III
têm o papel de mestres de cerimónia. George Bush, pai, faz uma
passagem-relâmpago por lá, ao princípio do dia. A apresentação é
rapidamente interrompida, mas há um pormenor que não escapa a ninguém.
Um dos convidados ostenta na sua identificação o nome de Ben Laden.
Trata-se de Shafiq Ben Laden, um dos numerosos meio-irmãos de Oussama. Os
meios de comunicação americanos descobrem a Carlyle. Um jornalista, Dan
Briody, escreve um livro sobre a face oculta do grupo, The Iron
Triangle , e interessa-se particularmente pelas relações estreitas
entre o clã Bush e os dirigentes sauditas.
Algumas pessoas interrogam-se sobre a influência de George Bush, pai, na
política externa americana. Em Janeiro de 2001, quando George Bush,
filho, rompe as negociações com a Coreia do Norte relativamente aos
mísseis, os coreanos do Sul, consternados, intervêm junto do pai. A
Carlyle tem interesses importantes em Seul. Em Junho de 2001, Washington
retoma as discussões com Pyongyang.
Outro exemplo, em Julho de 2001, segundo o New York Times : George
Bush, pai, telefona ao prícipe saudita Abdallah que se mostrava
descontente com as tomadas de posição do presidente quanto ao conflito
israelo-palestiniano. George Bush, pai, assegura então ao príncipe que o
filho “está a fazer coisas boas” e que “o coração dele
está do bom lado”. Larry Klayman, director da Judicial Watch, uma
organização resolutamente conservadora, pede ao “pai do presidente
que se demita da Carlyle. O grupo tem conflitos de interesses que podem
criar problemas à política externa americana”. Por fim, em Outubro
de 2003, George Bush, pai, deixa a Carlyle. O pretexto oficial é o de que
ronda os 80 anos.
Embora a Carlyle tenha posto fim a qualquer relação com a família Ben
Laden, em Outubro de 2001, o mal já estava feito. O grupo torna-se com a
Halliburton o alvo dos opositores à administração Bush. “A Carlyle
substitui a Comissão Trilateral nas teorias da conspiração”, reconhecia
David Rubenstein, em 2003, numa entrevista ao Washington Post .
Pela primeira vez, o grupo nomeia um responsável para a comunicação e
muda de patrão. Frank Carlucci torna-se presidente honorário e Lou
Gerstner, dirigente respeitado que salvou a IBM, toma oficialmente as
rédeas. A operação parece ser sobretudo cosmética. O sr. Gerstner não
passa muito tempo no seu gabinete. Mas a Carlyle quer tornar-se
respeitável.
O grupo cria um sítio na Internet. Abre certos fundos a investidores,
contribuindo “somente” com 250 mil dólares (210 mil euros). Afirma
ter reduzido a sua participação na United Defense Industries e que a
Defesa e a Força Aérea não representam mais de 15% dos seus
investimentos. Mas a Carlyle continua a fazer uso intensivo dos paraísos
fiscais e é difícil conhecer o seu perímetro e o nome das sociedades
que controla.
A Carlyle multiplica também os seus esforços na Europa. Em Setembro de
2000, passa a controlar o grupo sueco de armamento Bofors por meio da
United Defense. Tenta em seguida, sem sucesso, deitar a mão à Thales
Information Systems e, em princípios de 2003, às participações da
France Telecom na Eutelsat, que tem um papel importante no sistema europeu
de posicionamento por satélite, concorrente do GPS americano. De 1999 a
2002, gere uma participação no Le Figaro . Em Itália, abre
caminho, apanhando a filial aeronáutica da Fiat, a Fiat Avio. Esta
sociedade fornece a Arianespace e permite à Carlyle entrar no Conselho da
nave espacial europeia. Outro golpe: em Dezembro de 2002, a Carlyle compra
um terço da Qinetic, filial privada do Centro de Investigações e
Desenvolvimento Militar britânico. A Qinetic ocupa uma posição única
como conselheira do governo britânico.
“Anteciparmo-nos às tecnologias do futuro e às empresas que as
desenvolvem é o nosso primeiro papel de investidor. Os fundos de pensões
trazem-nos o dinheiro para isso. Não nos podem reprovar que tentemos
assegurar posições estratégicas”, sublinha o sr. Ullmann.
[*] Jornalista de Le
Monde. Artigo publicado na edição de 30/Abr/04. Tradução de MJS.
Retirado do site http://resistir.info
Menu De
Artigos da Seção Conspirações
ARQUIVO
ÔMEGA - Parte 1
LAÇOS
DE FAMÍLIA
OS
GOVERNANTES INVISÍVEIS
QUEM
FOI NIKOLA TESLA?
Página Principal
|